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O objetivo por trás da valoração de uma empresa é entender a distinção fundamental entre preço e valor. O objetivo por trás da construção de um portfólio é a devida interação entre os ativos para, no jargão clássico do mercado, maximizar retorno e reduzir riscos.

Diversificação

Ao decorrer da história econômica, foram feitas inúmeras tentativas de desenvolver um arcabouço teórico que auxiliasse os investidores a tomarem decisões de alocação de capital racionais. Em uma época com informações limitadas, métodos contábeis e administrativos rudimentares, além de cenários macroeconômicos voláteis, os mercados apresentavam aos investidores capitalistas um grau significativamente maior de incerteza (risco) em comparação com os mercados contemporâneos, que disponibilizam uma gama de informações destinadas a proporcionar maior segurança aos investidores.

Apesar de não ter sua análise focada em investimentos, Adam Smith foi o primeiro a abordar o conceito de geração de valor, apresentando sua teoria das vantagens absolutas. Ele introduziu a ideia de que o comércio seria benéfico sempre que existissem diferenças nos custos de produção de bens entre países.

O comércio se justificaria quando fosse mais barato adquirir produtos fabricados em outras economias do que produzir dentro de casa. Em outras palavras, a interação entre agentes econômicos com diferentes estruturas de custos e produtividade gera valor.

A crítica apresentada por Adam Smith levou David Ricardo a desenvolver a teoria das vantagens comparativas. Ricardo enfatizou que cada nação possui atributos específicos que a tornam mais vantajosa em relação à outras em determinadas áreas de produção.

A partir dessa perspectiva, é viável otimizar o comércio internacional ao identificar as nações que direcionam seus recursos de produção para os produtos nos quais possuem habilidades naturais ou vantagens. Em resumo, é uma grande defesa da especialização.

Nesse contexto, é plausível estabelecer conexões entre as ideias de Ricardo e as abordagens contemporâneas de diversificação, as quais permitem deliberar sobre a alocação de capital em nações ou empresas que desfrutem de vantagens geográficas, mercadológicas e/ou demográficas.

Um bom exemplo disso é a comparação entre o Brasil e os Estados Unidos: enquanto o Brasil se destaca como um país majoritariamente voltado para a exportação de commodities, os Estados Unidos possuem uma indústria de transformação e tecnológica já consolidada. Através de uma alocação de capital alinhada com a teoria das vantagens comparativas de Ricardo, seria sensato considerar ativos relacionados a commodities no Brasil e ativos de tecnologia nos Estados Unidos, visando maximizar os potenciais ganhos ao capitalizar sobre as forças distintivas de cada economia.

Investimento através dos tempos

Após a crise de 1929, que abalou o mercado de ações dos Estados Unidos, tornou-se praticamente vital para o sistema financeiro buscar a formalização de métodos mais avançados para analisar e direcionar a alocação de capital. Isso deu origem a personalidades como Benjamin Graham, um professor da Universidade de Columbia e investidor, que é reconhecido como o pioneiro da análise fundamentalista.

Graham introduziu um modelo que propunha uma estratégia conservadora de investimento, sugerindo a compra de ações com bom rendimento, que não dependessem de crescimento futuro. Ele enfatizava características como um histórico estável e resiliente de pagamentos de dividendos, além de um faturamento mínimo.

Um ótimo exemplo de um ativo que se encaixaria nos critérios conservadores de avaliação de Graham é a 3M (Minnesota Mining and Manufacturing Co.), uma empresa conhecida por todos e que desempenha um papel significativo em nosso dia a dia. A empresa demonstra um histórico estável e confiável de geração de valor aos seus acionistas, sustentando resultados sólidos e previsíveis ao longo do tempo.

1° Linha: Ano de operação.

2° Linha: Faturamento líquido em bilhões de dólares.

3° Linha: Total de dividendos pagos divididos pelo número de ações em circulação que são negociadas no mercado de bolsa de valores pela companhia. Esse cálculo revela de maneira clara o aumento na remuneração direcionada aos acionistas.

A gestão de portfólios

Mais adiante, em 1952, Harry Markowitz, doutorando da Universidade de Chicago, apresentou sua tese desenvolvendo uma teoria de diversificação mais focada na gestão de portfólio do que na análise em si. Ele introduziu uma etapa de valoração que complementava a análise fundamentalista clássica proposta por Graham. Markowitz foi pioneiro ao propor a gestão de portfólio com base na relação entre risco e retorno. Ele evidenciou que cada ativo carrega consigo um risco individual, no entanto, quando agrupados em um portfólio, esses riscos tendem a ser atenuados, e em algumas situações, até mesmo anulados.

Para ilustrar, suponha que você seja um investidor em uma empresa de aviação. Nesse contexto, existem riscos associados, como a possibilidade de aumento nos preços do combustível, o que poderia resultar em tarifas aéreas mais elevadas e uma diminuição no número de passageiros, o que reduziria a receita da empresa. Por outro lado, caso os preços do combustível subam, as empresas petrolíferas podem apresentar lucros maiores. Ao incluir ambas as opções em sua carteira de investimentos, você reduz esse risco específico.

Nesse sentido, nenhum ativo no seu portfólio deve ser visto como algo isolado, a decisão de investimentos depende do contexto no qual ele será inserido.

Desenvolvimentos recentes

Mais recentemente, a análise de investimentos ganhou uma nova dimensão com a incorporação da análise quantitativa e seus modelos econométricos. O uso de dados históricos do mercado aplicados ao processo de gestão de recursos tornou a análise de empresas menos discricionária e mais sistemática.

Ao longo do tempo, a maior disponibilidade e capacidade de assimilação de informações tornou o mercado mais eficiente em termos de precificação de empresas. Por exemplo, na época de Graham eram exigidos grandes descontos para se comprar qualquer companhia, com o nível de conhecimento atual, os descontos se tornaram menores.

Nesse período, também houve avanços no entendimento da interação entre os investidores e o mercado, o que deu origem ao uso da economia comportamental no mercado financeiro.

Indivíduos distintos reagem de maneiras diversas diante das mesmas informações. Isso destaca como a tomada de decisões no mercado financeiro não se restringem apenas a uma análise estritamente racional, mas também é influenciada por elementos comportamentais e emocionais que podem ocasionar em resultados diferentes para diferentes investidores.

Como explicar as irracionalidades dos agentes de mercado?

Um insight valioso extraído do livro “Rápido e devagar”, responde à pergunta sobre se as pessoas com quem convivemos fazem diferença nas nossas escolhas, denominando o fenômeno de: prova social. As pessoas tendem a assumir que as ações dos outros refletem o comportamento correto para uma situação – “se todos preferem este, provavelmente é porque este é bom”. Muitas vezes, a prova social é usada quando não sabemos como agir e usamos as pessoas em nosso entorno como parâmetro.

Estratégia, processo e planejamento

Devido a esses elementos, torna-se essencial que a estratégia de alocação seja cuidadosamente elaborada e muito bem planejada, dentro de um processo de tomada de decisões já bem estabelecido.

Com um foco em investimento de longo prazo, e uma perspectiva estrutural (e não conjuntural) sobre onde se quer chegar e como se quer chegar, o investidor pode ser capaz de evitar parte da influência de fatores externos e os ruídos de mercado.

Sempre é bom perguntar, quanto vale uma previsão de mercado? (texto aqui)

Ressalvas

É fundamental ressaltar que certos autores enfatizam a urgência de um novo paradigma, argumentando que os dados de natureza econômica e financeira não consideram todos os fatores fundamentais para o entendimento das empresas. Consequentemente, a análise de investimentos passou a abarcar aspectos que nem sempre estão abrangidos pelos indicadores convencionais. Isso inclui considerações ligadas à elementos ESG, que abrange questões ambientais, sociais e de governança corporativa.

É bom lembrar que a proposta desse breve texto não é dar por encerrada a discussão abordada, adoraríamos ler as suas críticas, sugestões e complementações sobre o assunto.