As empresas familiares representam a maioria dos negócios no Brasil, sendo as principais responsáveis pela geração do PIB e dos empregos formais. Evidentemente, organizações com essas características precisam ser estudadas, debatidas e, de certa forma, compreendidas, a fim de que possamos facilitar o caminho para seu progresso e, por consequência, do próprio país.
Entretanto, apesar da relevância, esses empreendimentos não são pensados com a especificidade e gravidade que o assunto exigiria e, por diversas vezes soluções “de prateleira” são apresentadas como as únicas possíveis para certas situações.
Empresas familiares tem uma dinâmica comportamental diferente do que o “mercado” poderia inicialmente idealizar, mas é clara a grande influência das relações familiares na condução estratégica e mesmo operacional.
De forma positiva, esse tipo de organização torna os negócios mais fortes, uma vez que os valores que o conduzem estão mais arraigados por todas as pessoas e pela própria empresa.
Ainda, como há maior ligação pessoal, há mais coragem e resiliência para enfrentar dificuldades como, por exemplo, estes tempos de pandemia. Mas, como tudo na vida, há o lado negativo, que se manifesta quando as discussões típicas das famílias se estendem para dentro da empresa ou quando os debates sobre questões dos negócios invadem os almoços de domingo.
Para lidar com essas questões, primeiro passo é inverter o conceito da empresa familiar e começar a tratar de famílias empresárias. Ao longo dos anos, seja por meio da vida acadêmica na Fundação Dom Cabral, ou de nossa atuação como consultores de mais de 150 projetos de famílias empresárias aprendemos a importância de compreender, respeitar e valorizar a jornada individual de cada um desses grupos, e, ainda, o valor de buscar, de forma incessante, a harmonia nas relações familiares.
Isso passa não somente por organizar o ambiente familiar, trazendo previsibilidade para as relações e estabelecendo consensos sobre o processo sucessório, mas também por discutir, declarar e perseguir o legado que a família e o seu fundador querem deixar. Só assim será possível perpetuar esse tipo de negócio de forma mais sustentável.
Neste contexto, uma solução interessante para as famílias empresárias é o conceito de Family Office, que oferece uma assessoria completa – jurídica, fiscal, contábil e de investimentos. Assim, como uma maior compreensão de cada realidade, há a possibilidade de ampliar as fronteiras da dimensão financeira, agregando ao debate as aspirações de vida das pessoas.
Ao colocar o indivíduo e seus objetivos no centro é possível traçar a trajetória mais exitosa possível em todos os campos: pessoal, profissional etc. As empresas devem então, servir às famílias para possibilitar essa tranquilidade e liberdade de escolha, e não o contrário. É a liberdade de escolha o caminho para uma vida plena e feliz, o que é fundamental para a construção do futuro das pessoas, das famílias, suas empresas e patrimônio.
Por Ronaldo Behrens
Advogado, consultor, professor na Fundação Dom Cabral e partner na ABC Consult