Nem todos os retornos são iguais
Ganhar 10% ao ano investindo em títulos públicos, em CDB’s FGC*, em debêntures incentivadas ou em ações? Será que é tudo igual?
É comum, ao se discutir investimentos, sermos apresentados ao tripé de decisão entre liquidez, volatilidade e retorno.
Por essa ótica, há sempre que se renunciar a algum benefício em troca de outro. Se quer muito retorno e muita liquidez, tem que se assumir muita volatilidade. Se não quiser uma carteira volátil, tem que se renunciar à liquidez ou ao retorno.
Esse triângulo de escolhas já é bem conhecido, mas há outros pontos que valem a pena ser discutidos. Ao tentar sair do óbvio sobre finanças, vamos para os efeitos de segunda ordem, e aquele triângulo se torna um polígono bem mais complexo.
Além da volatilidade e da liquidez, existem outros fatores importantes para se comparar um retorno do mesmo tamanho. Talvez, o primeiro, e em maior evidência nesse momento (devido a tramitação do PL 4.173/2023 de taxação dos investimentos no exterior e fundos exclusivos), seja a tributação.
A tributação
O Brasil dispõe de grandes vantagens quando o assunto é investimento isento, por exemplo, as debêntures incentivadas não pagam nenhum tipo de imposto, os rendimentos de fundos imobiliários e dividendos de ações também não, ainda temos as LCI’s, LCA’s, CRI’s e CRA’s que seguem isentas.
Dessa forma, uma Letra de Crédito Imobiliário (LCI) que pague 9% ao ano deixa mais dinheiro no seu bolso do que um título público que paga 10% ao ano. Mas, por conta de ser um efeito tributário, algumas vezes há uma ilusão de ótica monetária, onde o investidor enxerga a sua carteira render mais se optar pelo título público. O que é melhor, 100% do CDI tributado ou 90% isento?
O risco de reinvestimento
Outro ponto importante e pouco discutido é o risco de reinvestimento, ele é caracterizado pela capacidade de reaplicar os proventos e amortizações na mesma taxa em que o principal foi aplicado no momento anterior.
Hoje, um título de dívida que paga 10% ao ano e vence em 3 anos carrega em si um risco “invisível”. Há uma expectativa de que os juros brasileiros caiam ao longo dos próximos anos, além disso, historicamente, durante os ciclos de queda, os juros sempre caíram mais do que se antecipava a priori.
Se de fato os juros caírem ao longo dos próximos anos, o investidor pode se ver com muito dinheiro na mão e com opções piores para investir no momento do vencimento do título. Ou seja, ganhará 10% ao ano nos primeiros 3 anos, mas pode ser que ganhe apenas 7% nos anos que vierem após a reaplicação.
Por outro lado, o investidor que comprar um título que vence em 6 anos, terá 3 anos adicionais de bons rendimentos pela frente.
Na prática, sabemos que nem mesmo a renda fixa é fixa e quanto mais longo for o horizonte do título, mais volátil será a apresentação de retornos.
Os títulos atrelados ao CDI
A partir dessa limitação, da capacidade de reinvestimento, surge o primeiro problema dos títulos indexados ao CDI, e assim buscamos responder uma pergunta muito pertinente e recorrente feita por nossos investidores:
“Porque quando o CDI está alto, não investimos todos os recursos no CDI, considerando a alta atratividade das taxas de curto prazo?”
Ao investir em CDI, estamos comprando um título pós fixado atrelado a taxa de empréstimos cujo vencimento ocorre todo dia útil, ou seja, títulos atrelados ao CDI tem a sua taxa repactuada todo dia, assim à medida que os juros caem a sua rentabilidade também cai e o seu risco de reinvestimento é grande.
A dificuldade não é investir em CDI quando as taxas estão altas, é dar destino para o dinheiro quando elas voltarem a estar baixas.
Títulos longos e perpétuos
Dessa forma, os títulos com vencimentos mais longos são uma forma de se proteger do risco de reinvestimento. Mas por que não os títulos perpétuos?
Um título perpetuo é um direito a determinado fluxo financeiro de maneira indefinida. Ao invés de 10% ao ano por 6 anos, 10% ao ano para “sempre”. O problema é que os títulos com vencimento indeterminado mais acessíveis também possuem fluxos financeiros indefinidos. Não é 10% ao ano para sempre, é um montante indefinido por tempo indefinido.
E toda essa indefinição naturalmente afasta os investidores desses títulos, por isso, as ações e fundos imobiliários (FIIs) são, muitas vezes, títulos menos procurados do que as debêntures e CDB’s.
Uma ação ou fundo imobiliário são direitos sobre os fluxos de caixa residuais dos ativos subjacentes, isso também é verdade para o seu título de propriedade de um imóvel físico (escritura). Ou seja, há uma forma bem conhecida de mitigar o risco de reinvestimento, comprar ativos reais ou direitos sobre ativos reais e manter sua atenção voltada aos seus proventos.
Os bons ativos funcionam como uma mola
Você não precisa, necessariamente, que os ativos se valorizem para ganhar dinheiro, você precisa que seus proventos cresçam indefinidamente https://ipai.com.br/conteudo/sera-que-a-alta-das-acoes-sao-a-unica-maneira-de-se-ganhar-dinheiro/
Se o seu título estiver ligado a bons ativos, com geração de caixa estável, o seu risco de reinvestimento é mitigado e você é capaz de travar altas taxas de retorno para “sempre”. Por exemplo, o investidor que comprou Sanepar no último dia útil de 2017, viu o preço das ações caírem 9% até o final de 2022.
Entretanto viu seus dividendos crescerem 10% ao ano até o momento e as ações dispararem 40% no ano de 2023, se os proventos sobem o preço da ação também sobe no longo prazo.
Ressalvas
É sempre bom lembrar que não temos a intenção de encerrar a discussão por aqui, fique à vontade para entrar em contato e ampliar o nosso horizonte de ideias de investimento. Por enquanto, ficamos com o nosso pentágono da decisão de investimento.