A dinâmica de relacionamento familiar e o processo de decisão em uma empresa podem se assemelhar a uma arte complexa, exigindo equilíbrio, coordenação e clareza. No universo das famílias empresárias, o entrelaçar das relações familiares com os interesses de um negócio traz camadas de desafios e oportunidades que moldam não apenas o desenvolvimento da companhia, mas também a própria estrutura familiar.
Empresas fundadas e lideradas por famílias acumulam uma história emocional injetada na própria essência de seus negócios. A identidade familiar muitas vezes é integrada aos valores corporativos, refletindo-se em uma cultura organizacional única e numa dedicação apaixonada ao sucesso. No entanto, a proximidade de laços familiares abre espaço para um terreno fértil de potenciais fricções. Questões não resolvidas e rivalidades passadas podem complicar as relações internas, se não forem abordadas com prudência.
Para mitigar conflitos potenciais, é imperativo estabelecer expectativas claras desde o início. Documentar funções, responsabilidades e linhas de autoridade ajudam a reduzir mal-entendidos e oferece um roteiro estratégico que norteia tanto os membros familiares como os funcionários não familiares. A transparência é a base de relações saudáveis. Comunicar de forma clara e regular o porquê de determinadas decisões e estratégias é essencial para o entendimento e comprometimento de todos.
Um mosaico completo
Nos negócios familiares, as vozes dos acionistas externos, conselheiros e funcionários devem ser integradas à conversa. Essas perspectivas externas podem trazer insights relevantes, reduzindo a visão de túnel que muitas vezes ocorre dentro do círculo familiar. A criação de um conselho consultivo, composto por membros independentes, pode desempenhar um papel extremamente importante na orientação estratégica da empresa, promovendo tomadas de decisão mais equilibradas.
O processo de tomada de decisões em um ambiente empresarial familiar é um delicado balé entre o racional, o emocional e o estratégico. A emoção, muitas vezes derivada da história e identidade da família, não deve ser subestimada, pois pode influenciar fortemente as escolhas e direções da empresa. No entanto, é essencial equilibrar essa carga emocional com análises racionais e uma abordagem estratégica que considere o melhor para o empreendimento a longo prazo.
No contexto empresarial moderno, observamos uma mudança significativa na dinâmica de liderança e tomada de decisões, especialmente no que diz respeito ao papel das mulheres.
No Brasil, por exemplo, segundo dados da pesquisa Women in Business 2022, realizada pela Grant Thornton, 38% das empresas possuem mulheres em cargos de liderança. 23% das empresas têm uma mulher ocupando a posição de CEO. O Brasil passou a ocupar o quarto lugar e está à frente da média da América Latina – 35% e da média global – 32%.
Nas empresas familiares, em particular, as mulheres estão assumindo cada vez mais funções estratégicas e de liderança, trazendo uma perspectiva enriquecida para o processo decisório. Sua inclusão não apenas diversifica a tomada de decisões, mas também prepara o terreno para um futuro mais igualitário e eficiente. Neste link falamos um pouco mais sobre esse tema:
As dinâmicas de relacionamento e processo de decisão em empresas familiares são um campo fértil para a exploração da complexa interação entre o pessoal e o profissional, o emocional e o prático. A busca por um perfeito equilíbrio pode ser uma tarefa árdua, mas a recompensa está em ver as gerações futuras lapidando o legado familiar em direção a um futuro promissor. Com o devido cuidado, atenção e planejamento, as famílias empresárias podem não apenas manter-se, mas também prosperar, criando um legado duradouro que resiste às intempéries do tempo e do mercado.
Empresas como Cosentino Group e Grupo Ferrero são exemplos vivos desse equilíbrio e da capacidade de adaptação que as famílias empresárias podem alcançar. Seus líderes, integrando sabiamente as vozes familiares com as necessidades do negócio, demonstram que não há fórmula mágica, mas sim um conjunto de valores e práticas que podem servir de norte a todos que trilham este caminho singular. Assim, a arte e a ciência das decisões em empresas familiares não são apenas um legado a ser preservado, mas uma missão a ser vivenciada com respeito, inovação e visão de futuro.
Ronaldo Behrens
Sócio ABC
PhD. PXLeader
Professor da FDC