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Desde pequeno, via a fazenda da minha família como um lugar de histórias e memórias, mas nunca pensei nela como uma carreira. Eu cresci correndo pelos campos, ajudando nas pequenas tarefas e observando meu pai e meu avô trabalharem duro para manter tudo funcionando.

Conforme fui crescendo, me senti dividido entre a vida no campo e as oportunidades nas grandes cidades. Aos 25 anos, me formei em administração de empresas e estava prestes a aceitar um emprego em São Paulo. A cidade oferecia um estilo de vida que eu sempre quis experimentar. No entanto, durante uma visita à fazenda, percebi a preocupação no olhar do meu pai. A fazenda precisava de atenção e a falta de um sucessor preparado poderia significar o fim de um legado familiar.

Passei dias refletindo sobre o impacto da minha escolha, não só para minha família, mas para toda a comunidade que dependia da fazenda. Decidi então passar um ano conhecendo de perto como tudo funcionava, aplicando o que aprendi na faculdade para modernizar as operações. Comecei a explorar novas tecnologias no agro e a pensar em como elas poderiam beneficiar nossa propriedade.

Descobri que práticas agrícolas modernas e sustentáveis poderiam aumentar nossa produtividade. Introduzi sistemas de irrigação automatizados, drones para monitoramento de culturas e gestão agrícola digital. Essas mudanças melhoraram nossa eficiência e tornaram o trabalho no campo mais atraente.

Para garantir o futuro da fazenda, envolvi meus irmãos e primos nas operações. Organizamos workshops e participamos de feiras agrícolas para entender melhor o agronegócio moderno. Trabalhar juntos nos ajudou a unir a família em torno de um objetivo comum.

Entendi que o sucesso a longo prazo depende de educação e capacitação contínua. Incentivei todos a buscarem formação em áreas relacionadas ao agro e a participarem de treinamentos práticos na fazenda, teoria e prática, preparando a próxima geração para tomar decisões informadas e inovadoras.

Implementamos práticas de governança para organizar melhor as operações familiares, definindo papéis claros para cada um. Isso facilitou a transição de responsabilidades e ajudou a manter a harmonia durante as mudanças.

No entanto, nem tudo foi fácil. Durante esse processo, enfrentamos uma crise familiar significativa. Meu irmão mais velho, Pedro, sempre teve uma visão diferente sobre o futuro da fazenda. Ele acreditava que deveríamos manter as práticas tradicionais e estava relutante em aceitar as inovações que eu estava propondo. Esse conflito gerou tensões e discussões acaloradas em várias reuniões familiares.

A situação chegou ao ponto em que Pedro ameaçou deixar a fazenda e vender sua parte na propriedade. Esse foi um momento crítico para todos nós. Sabíamos que a saída dele poderia desestabilizar as operações e a união familiar. Passei noites em claro pensando em como resolver essa situação sem comprometer o futuro da fazenda.

Decidi então buscar uma solução conciliatória. Propus a criação de um conselho familiar, onde todos teriam voz e poderiam expressar suas preocupações e ideias. Organizamos reuniões mediadas por um consultor externo especializado em sucessão familiar no agro. Aos poucos, conseguimos encontrar um meio-termo que acomodasse as tradições valorizadas por Pedro e as inovações que eu acreditava serem necessárias.

Um ano se passou e percebi que minha jornada no agro estava apenas começando. Descobri um propósito maior do que qualquer emprego na cidade poderia oferecer. A fazenda não é apenas um negócio, mas um legado que quero preservar e fortalecer para as próximas gerações. A crise com meu irmão nos ensinou que, com diálogo e cooperação, é possível superar desafios e garantir que o legado familiar continue a prosperar.

Lucas Dantas – sucessor da Fazenda Aurora, produtor de milho, no Sul de Mato Grosso.

(Nomes fictícios)